segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

ACORDO UNIFICA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Em todo o mundo, 230 milhões de pessoas falam a Língua Portuguesa. Apesar disso, o idioma era o único que tinha duas formas de escrita - a europeia e a brasileira -, ao contrário de outras línguas, como inglês e espanhol, que possuem uma só grafia.
Esse detalhe aparentemente simples já causou muitos transtornos no intercâmbio cultural e científico entre as nações da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) - que são Brasil, Angola, Portugal, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste - e mesmo na difusão do próprio idioma. Por isso havia a necessidade de um acordo para padronizar a ortografia entre os países. Juntos, eles somam uma população estimada em 230 milhões de pessoas (sendo 190 milhões só do Brasil). Com o acordo, a língua portuguesa deixará de ser a única com duas ortografias e poderá ser classificada como idioma oficial na Unesco.


O Brasil foi o primeiro país a implementar as novas regras, que começaram a valer a partir de janeiro de 2009. No dia 19 de setembro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que estabelece o cronograma de implantação do acordo.

UM LONGO PROCESSO

A discussão sobre a necessidade da padronização da ortografia da Língua Portuguesa é uma realidade para os países integrantes da CPLP desde 1986 quando aconteceu, no Rio de Janeiro, o Encontro para Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa. Um dos grandes entusiastas desse prcesso era o filósofo Antônio Houaiss. Para ele, a falta de unidade ortográfica na língua trazia muitos problemas, tanto linguísticos quanto políticos. Em dezembro de 1990, o Acordo Ortográfico entre os integrantes da CPLP é finalmente assinado pelos signatários de Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Timor Leste ainda não era um país livre, portanto, somente ratificou o Acordo mais tarde.
 
Apesar da assinatura do documento, houve resistência à sua efetiva implementação, sobretudo por parte de Portugal, país em que as alterações podem chegar a 1,6% das palavras adotadas. Apesar dos problemas, o Acordo foi ratificado, dando à Língua Portuguesa uma unidade ortográfica.

No Brasil, as mudanças foram feitas de forma gradativa a partir de 1º de janeiro de 2009, com um prazo de conclusão até o início de 2013. O decreto determina que, nos quatro anos de transição, sejam aceitas as duas formas.
 
As mudanças avetaram aproximadamente 0,43% das palavras adotadas no Brasil.

O Acordo Ortográfico foi organizado em 21 bases. Essas bases contemplam os aspectos que envolvem a língua portuguesa e aponta as mudanças necessárias.

O QUE MUDOU NO BRASIL COM AS NOVAS REGRAS:

I) ALFABETO

O alfabeto brasileiro ganha três novas letras: k, w e y. Passando a ficar com 26 letras. Seu emprego estará restrito a alguns casos, como nomes próprios, palavras estrangeiras incorporadas à língua e símbolos, abreviaturas e palavras adotadas como medidas de unidades internacionais.

Ex: Kuwait, show, downloud, km, Franklin.

II) HÍFEN

1. Deixará de ser utilizado:

* quando o prefixo terminar em vogal e o segundo elemento começar com s ou r, essas consoantes passam a ser duplicadas.

Ex: antirreligioso, antissemita, contrarregra, infrassom, extrarregulamentação.

* quando o prefixo terminar em vogal e o segundo elemento começar com uma vogal diferente.

Ex: extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoescola.

Exceção: será mantido o hífen quando o prefixo terminar com r ("hiper", "inter" e "super").

Ex: hiper-requintado, inter-resistente e super-revista.

2. Deverá ser utilizado:

* quando o primeiro elemento finalizar com uma vogal igual à do segundo elemento.

Ex: micro-ondas, anti-inflamatório.

III) TREMA

Deixa de existir na grafia da Língua Portuguesa (quando indica que o u dos grupos gue, que, gui e qui é pronunciado). Mas a pronúncia permanece a mesma.

Ex: aguentar, consequência, linguiça, líquido.

Exceção: o trema permanece nos nomes próprios de origem estrangeira.

IV) ACENTO DIFERENCIAL

Não se usará mais para diferenciar:

1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição).

2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo).

3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo").

4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo).

5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica).

V) ACENTO CIRCUNFLEXO

Não se usará mais:

1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem".

2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo".

VI) ACENTO AGUDO

Não se usará mais:

1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia".

2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca".

3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem.

VII) GRAFIA

No português lusitano:

1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo".